O potencial feminino da renovação

Estamos atravessando os intensos momentos de Iamim Noraim, dos Dias Temíveis. Pedimos perdão, rezamos para sermos inscritos no Livro da Vida e termos mais uma esperança neste ano 5779 que acaba de entrar no calendário judaico. Renovamos nossas esperanças em Deus e também em nossa sociedade. Redirecionamos nossas forças e nossos empenhos. Mas as renovações não deveriam ser uma única vez ao ano. 

A liturgia das rezas diárias nos traz a frase mechadesh bechol iom tamid maassê vereshit – renova continuamente e diariamente a obra da criação. Todos os dias são um milagre. O Sol nascer no horizonte iluminando a escuridão da incerteza da noite é um milagre. Ainda que nos pareça óbvio e tenha sido explicado pela ciência, é milagroso. Quando o óbvio nos domina perderemos, nas palavras de Abraham Joshua Heschel, a capacidade do “assombro radical” e de nos maravilharmos com a vida. 

Somos invadidos por essa sensação de milagre em momentos muito específicos, o nascimento de uma criança, ver uma flor no exato momento em que está se abrindo, olhar a imensidade do universo pelas estrelas no céu. Mas o milagre diário já não nos invade. Talvez por isso a reza tente nos lembrar do milagre diariamente a través das palavras. A sábia tradição, conhecedora dos seres humanos propôs outros momentos para reconhecer pausas, renovações e talvez esse “maravilhar-se”.

Esses momentos espalhados pelo ano todo, comparados com os Iamim Noraim, têm menor intensidade, mas talvez sejam até mais importantes. Porque ser impactados pelo renascimento do mundo, pela renovação da promessa de vida em um único momento anual pode ter um efeito contrário e ser mais assustador do que incrível. O começo de cada mês, Rosh Chodesh, é marcado pela lua nova. O renovar da lua que vemos crescer, ficar cheia e voltar ao seu estado inicial. Esse renascer do ciclo é, na tradição judaica, vinculado às mulheres. O midrash  nos conta como as mulheres ganharam esse dia por terem se abstido de entregarem suas joias para construir o bezerro de ouro no deserto.

Gostaria de convidar a acreditar que existem outras razões pelas quais a mulher é relacionada a essa renovação. As mulheres também passam por ciclos, geralmente tão marcados e mensais como os da lua. Arrisco dizer, infelizmente, que hoje nós mulheres estamos tão distanciadas do nosso ciclo quanto a humanidade do milagre da vida. O mundo moderno nos distanciou tanto das diversas sensações que acontecem conosco que também só percebemos o milagre quando estamos grávidas. Teríamos que aproveitar essa conexão orgânica com o universo e com o planeta para nos reconectarmos conosco, tanto na esfera mensal como nas pontuais de uma gestação.

Talvez assim como as mulheres da geração do bezerro de ouro não quiseram participar deste evento, e possivelmente alertaram os homens de que algo não era correto, seja nossa responsabilidade, como mulheres, descobrir nosso potencial de renovação e de vida e inspirar a que todos possam entrar em contato com o potencial humano de renovação.

Em Rosh Hashaná, no ano novo, comemoramos a criação do primeiro ser humano, o qual Deus fez com aspectos femininos e masculinos – zachar unekevá bará otam (masculino e feminino os criou). Que neste Iom Kipur, momento no qual nos encontramos às vésperas de termos nosso veredicto selado para este ano, possamos nos reencontrar com nossa essência de renovação inata. Que o feminino presente em cada um de nós possa entrar em contato com seu potencial de renovação. Que o potencial de gerar vida, existente em cada ser humano, possa defender que estejamos inscritos e sejamos rubricados no Livro da Vida. 

Gmar Chatimá Tová

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