A crise política israelense e a agenda internacional

Desde o final de 2018 o governo
israelense entrou em crise. Esta instabilidade estava anunciada há algum tempo,
visto as investigações de corrupção dirigidas ao primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu desde 2016. Os
chamados casos 1000, 2000, 3000 e 4000 pela procuradoria geral israelense
,
envolvem desde favores e presentes dirigidos a Netanyahu e sua família trocados
com empresários estrangeiros por benefícios fiscais, suborno em troca de
cobertura favorável do governo pela mídia, até superfaturamento na compra de
submarinos e outros itens militares. No dia 19 de dezembro de 2018, o
procurador geral Shai Nitzan recomendou oficialmente o indiciamento de Benjamin
Netanyahu por corrupção.

A partir disso uma crise política
se instaurou em Israel. Desde novembro de 2018 o governo de Netanyahu e seu
partido, Likud, já vinham sofrendo com as alianças com os partidos da direita,
pois estavam perdendo apoio desses partidos. Primeiro,
o ministro da defesa, Avigdor Lieberman, renunciou ao cargo e seu partido,
Israel Beiteinu, se retirou oficialmente da coalizão
, deixando o
Likud com apenas 61 (de um total de 120) cadeiras no parlamento (Knesset), o
mínimo necessário para governar. Importante lembrar que Israel é uma república
parlamentar multipartidária e nunca na história do país um partido sozinho
conseguiu maioria no parlamento, sendo necessárias coalizões para a formação do
governo. Mas a crise só se instaurou definitivamente no dia 24 de dezembro de
2018, quando o partido Habait Hayehudi também se retirou da coalizão,
impulsionado por questões internas, mas também pelo processo judicial contra
Netanyahu. Sem
maioria, o governo foi dissolvido e as eleições, que já estavam previstas para
novembro de 2019, foram antecipadas para 09 de abril do mesmo ano.

Netanyahu, que
estava com viagem marcada para o Brasil para a posse do presidente Jair
Bolsonaro no dia 01 de janeiro de 2019
, passou a sofrer muita
pressão política e cogitou cancelar a visita ao Brasil, voltando atrás logo em seguida.

Muitos críticos de Netanyahu o
acusam de usar as eleições como forma de postergar seu processo judicial, isso
porque ele pode alegar que as investigações prejudicariam uma campanha
eleitoral neutra e justa.

A sensação que
permanece é que o governo de Netanyahu está utilizando a agenda internacional
para distrair da crise política e pessoal que está enfrentando. Primeiramente
com a própria ida ao Brasil. Sua
estadia no Rio de Janeiro foi altamente noticiada em Israel
, com
muitos detalhes de sua agenda no país, lembrando que foi na mesma semana da
dissolução do governo e do seu indiciamento.

Na mesma toada, Israel,
juntamente dos Estados Unidos, oficialmente
saíram da UNESCO no dia 02 de janeiro de 2019
. O
processo de saída remete ao ano anterior
, com os países
alegando que a organização seria anti-Israel. Este pensamento advém da votação da UNESCO relacionada à
natureza cultural, histórica e legal da cidade de Jerusalém em relação aos
israelenses, negando-lhes ligações de qualquer tipo com a cidade igualmente
sagrada para as três maiores religiões monoteístas (cristianismo, judaísmo e
islamismo).

A UNESCO tem
sido muito crítica a Israel, como todas as agências internacionais. Mas, na
maioria dos casos, suas críticas eram relevantes e adequadas, como em relação à
ocupação na Cisjordânia. Jerusalém oriental é de fato um território ocupado,
como é a Cisjordânia, não importa o quanto Israel tente negar. Entretanto, em
um dos casos a UNESCO falhou seriamente: quando ignorou a conexão judaica com o
Muro das Lamentações. A organização deveria ter sido repreendida por isso. Mas
ao longo dos anos reconheceu seis locais em Israel como Patrimônios da
Humanidade (Massada, Cidade Branca de Tel Aviv, Acre, Cidades no Deserto do
Negev, Centro Mundial Baha’i em Haifa e as cavernas de Maressa) reconhecimento
que trouxe honra e turistas.

Apesar de parecer que a atitude dos Estados Unidos é
positiva para Israel – e até mesmo interpretada como tal pelo governo
israelense – na verdade, está prejudicando o país e o isolando no Sistema
Internacional, já que não possui muitos aliados além dos Estados Unidos, não
obstante a esperança de conseguir apoio de outros países como o Brasil Ademais,
Israel é cada dia mais criticado nos organismos internacionais por suas
políticas em relação aos palestinos.

A percepção
de que o Primeiro-ministro israelense estaria usando a agenda de política
externa para distrair de seu processo judicial é fortalecida com o depoimento
dado por Netanyahu em rede nacional no dia 07 de janeiro de 2019, que
muitos
acharam que seria uma declaração de guerra ao Líbano
(por
conta dos túneis do Hezbollah descobertos em dezembro na fronteira entre os
dois países
e que tem recebido muita atenção na campanha
eleitoral por representar uma “ameaça iminente” ao Estado de Israel) ou mais
uma incursão em Gaza devido à dramaticidade com que o discurso foi anunciado na
mídia Porém, na prática, o discurso foi
 um monólogo sobre sua inocência nos processos
de corrupção em que é réu
.

Ainda faltam três meses para as
eleições, e o partido de Netanyahu, Likud, já se encontra em primeiro nas
pesquisas. Para a manutenção de sua posição privilegiada no poder e o adiamento
de seu julgamento, provavelmente veremos muito mais de Israel nos noticiários
internacionais, uma vez que muitos eleitores dedicam a segurança do país ao
partido Likud e mais especificamente a Netanyahu.

Nas últimas eleições, em 2015, as
pesquisas indicavam que uma junção de partidos de esquerda, chamada União
Sionista, composta pelos partidos trabalhista e Hatnuah, estava em primeiro
lugar, mas em poucos dias Netanyahu conseguiu reverter e colocar o Likud em
primeiro utilizando aspectos de segurança na campanha. O principal foco foi
“impedir que o Irã obtenha uma capacidade nuclear, tornando a opinião pública
mundial a favor da manutenção e expansão das sanções econômicas e diplomáticas
contra Teerã”. Netanyahu reiterou suas posições sobre o Irã para uma
sessão conjunta do Congresso dos Estados Unidos. No processo de paz no Oriente
Médio, Netanyahu se pronunciou contra novas retiradas de terra, novas
libertações de terroristas das prisões ou a divisão de Jerusalém de qualquer
forma. Provavelmente não será diferente em 2019. 

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