Permutas populacionais ou coexistência?

O olhar palestino a respeito da criação de Israel é o pior possível. O termo Naqba, catástrofe, é o que o define. O problema da fuga de centenas de milhares de palestinos de suas terras por ocasião da Guerra de Independência de Israel contra seus vizinhos, gerou o problema dos refugiados e uma ideia central e poderosa: voltaremos, nosso êxodo não anula nossos direitos à nossa terra, usurpada por um ocupante que nenhum direito possui sobre ela. Diga-se de passagem, muito similar ao argumento sionista sobre o retorno dos judeus a sua terra ancestral.

Desde então, o tema dos refugiados palestinos tornou-se centro nevrálgico em toda discussão para a solução do conflito. A reivindicação de que todos deverão voltar para seus antigos lares, hoje dentro do Estado de Israel, paralisa o prosseguimento de negociações. Não sem motivo, Israel vê nesta posição uma ameaça concreta a sua existência.

Do lado israelense há quem alegue de que também centenas de milhares de judeus dos países árabes foram obrigados a saírem de seus países por ocasião do conflito. O que teria ocorrido aqui é um tipo de troca de populações, como outras que existiram. No contexto da época, logo após o final da II Guerra Mundial, havia a ideia de que populações civis poderiam ser trocadas no intuito de se conseguir uma solução para conflitos.

A primeira e mais conhecida troca populacional nestes termos ocorreu entre turcos e gregos (Tratado de Lausanne, 1923). Mais de três mil anos de presença helênica na Ásia Menor foram varridos. A secular presença turca na Grécia, idem. Em 1947, portanto às vésperas da criação de Israel, a Índia Britânica passou pelo seu processo de independência que gerou situação semelhante, com a criação de três Estados distintos, Paquistão Ocidental (hoje Paquistão), Índia, Paquistão Oriental (hoje Bangladesh). Necessidade ditada pelas diferenças e tensões religiosas entre muçulmanos e hindus.

Na própria Europa pós Segunda Guerra, grandes trocas populacionais ocorreram para reassentar alemães provindos do Leste Europeu, assim como para adequar fronteiras e populações.

Mas no caso israelense-palestino este tema possui nuances. A ideia de que estamos diante de dois problemas simétricos de refugiados: palestinos não absorvidos pelo países árabes e refugiados judeus sim absorvidos por Israel não espelha a realidade.

Israel não vê os judeus saídos dos países árabes como refugiados, mas como judeus exercendo o direito inalienável de retornar a Israel.

Os palestinos não concebem seu problema de refugiados como mera consequência de uma guerra perdida, mas sim como o resultado de uma injustiça histórica e de uma usurpação.

A questão é que ambos movimentos nacionais entendem a terra, o território, como o pergaminho no qual escrevem suas narrativas, suas memórias e seus planos futuros. Aqui não haverá troca de terras, nem de populações. Mesmo quando se proclama “terras em troca de paz”, isto é geralmente visto como a “solução menos pior” do que de fato a melhor, e única, saída para o conflito,

Emparedados num mesmo território que cada qual vê como só seu, judeus e palestinos podem sonhar que acordarão um dia e não terão mais o seu incômodo vizinho. Mas se quiserem despertar para a realidade, deverão entender que no pergaminho-território no qual se escrevem suas vidas, a palavra coexistência deve ocupar espaço de destaque.

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