O dia em que um presidente egípcio falou ao parlamento israelense

A imagem é de um lugar bem familiar para aqueles que estão familiarizados com a política israelense. A disposição dos cento e vinte assentos em forma de menorah e o brasão de Israel ao centro indicam que é uma foto no Knesset, o parlamento de onde sai as principais decisões políticas de Israel, funcionando normalmente. O que não é comum na foto é a figura central fazendo seu discurso. De terno escuro, óculos e atraindo a atenção das principais lideranças israelenses da época, o presidente egípcio Anwar Sadat.

A foto é do ano de 1977, apenas três anos após a guerra mais traumática para o exército israelense até então, a Guerra de Yom Kippur, quando mais de dois mil soldados israelenses e cinco mil soldados egípcios perderam suas vidas. O Egito, grande liderança regional entre os países árabes, ainda tinha se envolvido contra Israel na Guerra de Independência, Guerra de Suez e na Guerra dos Seis Dias, quando perdeu o controle do Deserto do Sinai para Israel. Portanto, a presença de um presidente egípcio discursando no parlamento israelense era particularmente surpreendente, mas não sem sentido.

O Egito de Sadat, grande liderança política e militar regional, havia fracassado no seu esforço de recuperar a Península do Sinai de Israel, e precisava dar uma resposta interna para essa questão. Israel, por sua vez, encontrava-se em uma contradição política: dificilmente conseguiria um tratado de paz com todos os países árabes ao mesmo tempo, mas, até então, os países árabes só aceitavam negociar a paz em conjunto. A Guerra de Yom Kippur, apesar de vitoriosa, deixou a sensação que o exército israelense não era invencível, e acordos de paz se faziam cada vez mais necessários.

Sadat chegou no aeroporto de Ben-Gurion no dia 19 de novembro. Foi recebido com o hino nacional egípcio, tapete vermelho e honras militares. No dia seguinte, Sadat foi recebido com aplausos e boas vindas no Knesset. Justificou a escolha de visitar Jerusalém, defendeu a retirada total de Israel de terras fora das fronteiras de 1967 e o direito palestino ao próprio Estado. Depois, o primeiro-ministro israelense Menachem Begin falou sobre a importância da paz com os egípcios, mas discordou das fronteiras sugeridas por Sadat e ignorou a questão palestina.

Apesar disso, a visita de Sadat foi considerada um sucesso. Ela abriu espaço para as negociações continuarem em alto nível até a assinatura dos Acordos de Camp David, em setembro de 1978. Esse acordo abriu caminho para um tratado entre os dois países, em que Israel devolvia a Península do Sinai para o Egito. Em troca, o Egito reconhecia a existência de Israel e assumia o compromisso da paz. O preço para Sadat, entretanto, acabou sendo muito maior que ele imaginava: a antipatia por sua figura cresceu em todo o mundo árabe e em seu próprio país. Por causa dos acordos de paz com Israel, foi morto por oficiais do exército egípcio no dia 6 de outubro de 1981. Mesmo com a morte de Sadat, a paz com Israel continua valendo até os dias de hoje, com poucos abalos ao longo das décadas.

Pesquisa e texto: Gabriel Melo Mizrahi.

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